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NOTÍCIAS

Maravilhas da Helena – memória afetiva traduzida em sabor

 

Eu sou Helena Gonçalves da Silva Macedo, moro no Ribeiro de Abreu há 33 anos e sou
agricultora urbana, produtora de doces. Aprendi a fazer os doces em casa mesmo, colhendo no
quintal as frutas que estavam dando demais. Na época da banana, eu fazia doce de banana,
na época da batata doce, fazia doce de batata doce. Há um tempo atrás, era de seis em seis
meses que era a época né? Você plantava e daí seis meses fazia doce. A bananeira não, pois é
de ano em ano, mas ainda assim dava muito cacho e eu fazia os doces.


Eu aprendi a fazer doce muito cedo, com muita perda. Saía bom, saía ruim, mas era o que tinha
para comer, e a gente não tinha tecnologia ou coisa assim, era tudo natural mesmo, pegava o
açúcar e o produto e ia para cozinha fazer daquele jeito.


Em março entra a laranja da Terra, vou começar a fazer os doces. A produção da laranja vai
durar uns três meses, uma produção grande, produz muito. Aí depois em novembro vem de
novo a goiaba e a jabuticaba, por que as duas andam juntas, só que a jabuticaba depois do
tamanho adulto amadurece depois de uns 15 dias, aí você tem mais 5 dias para produzir antes
delas caírem tudo. Faço 11 tipos de produtos com a jabuticaba entre eles: geleia, suco, licor,
vinho, creme, doces em pedaços, brigadeiro…


Outubro e novembro é época da goiaba, colho as goiabas, faço os doces, geleia, creme de
goiaba. Agora estamos na safra da abóbora, fazemos calda e doce de abóbora também.
De uns anos para cá modificou, percebi que as frutas não estão dando mais a quantidade que
dava, além disso, se tiver muito sol, o doce fica mais cítrico mais firme. Já com a chuva, as
frutas perdem mais rápido e o doce demora mais a dar o ponto. Também é importante
observar o local que o fruto dá. Se for uma terra mais seca, vai dar um fruto mais firme e mais
doce, se for beirada de rio vai dar fruto menos doce e cheio de água.


O clima tá misto, porque quando você pensa que não vai ter chuva, aí chove e o fruto sai… Vou
começar a prestar atenção nisso agora. Uma coisa que eu notei é que não está dando fruto
mais na época certa. Por exemplo, estamos em março e os pés de goiaba nem flor estão
dando, já era para os pés estarem perdendo goiaba, e hoje alguns pés que estão com uma ou
outra goiaba, então o clima tá mudando muito. Em alguns lugares já tem até jabuticaba, olha
para você ver como trocou as coisas!


Outras frutas que deram muito foram a mexerica e a laranja. A mexerica para fazer o doce
você gasta muito tempo, porque ela não dá ponto rápido e ainda costuma amargar, então é o
único fruto que não trabalho tanto, só para o consumo mesmo.


Estamos também na safra da mandioca, e estamos inventando um tanto de coisas com ela –
bolinho de mandioca, caldo de mandioca, e os produtos doces.


A cultura do doce está sendo muito boa, está levantando aquilo que eles deixaram morrer. O
pessoal aqui do Ribeiro fala que está comendo doce de verdade, as cestas que recebem os
doces, só tem elogio. Eles falam que lembra a infância, lembra a avó e a bisavó os entes
queridos. O doce de abóbora que fiz semana passada bombou.