O Intercâmbio Agroecológico entre Belo Horizonte e Rio de Janeiro foi uma experiência única. Difícil expressar em palavras a potência dos três dias de vivências, encontros e trocas.
A atividade foi construída de forma colaborativa entre a REDE e a AS-PTA e realizada na região metropolitana de Belo Horizonte entre os dias 25 a 27 de julho, com o tema “Agriculturas e processos em rede em regiões metropolitanas”.
O intercâmbio reuniu cerca de 60 pessoas e foi marcado pela diversidade. Participaram agricultoras/es urbanas/os e familiares das regiões metropolitanas do Rio de Janeiro e Belo Horizonte, moradoras/es de ocupações urbanas e comunidades periféricas, técnicas/os, representantes do poder público, ativistas urbanas/os e consumidoras/es. Cada participante pôde compartilhar suas histórias, vivências, sonhos, desafios e sua relação com a agroecologia, formando assim um grande mosaico – único e diverso, singular e plural, complementar e contraditório.
O intercâmbio reforçou que a agroecologia em regiões metropolitanas é mais do que cultivar alimentos sem veneno. É também uma forma de resistência e contraponto aos projetos de mercantilização das cidades que colocam o lucro acima da reprodução da vida. As experiências também apontam caminhos para defesa de bens e processos comuns e para construção do bem viver.
Comida de Verdade no campo e na Cidade!
O Balaio de Saberes abre portas e janelas para o intercâmbio
Iniciamos o intercâmbio com a participação no V Balaio de Saberes, realizado na Universidade Federal de Viçosa (UFV), campus Florestal. O Balaio é um espaço de compartilhamento de saberes, experiências e práticas e culturas na construção da agroecologia na região metropolitana de Belo Horizonte. Durante o Balaio as/os participantes conheceram o Sítio Mangueiras e o Sítio Três Irmãos. As duas experiências trabalham com sistemas agroflorestais (SAF´s). Nossa participação no Balaio foi encerrada com um belo e saboroso banquete agroecológico.
Um momento necessário para a reflexão
Parceiras e parceiros da REDE trocam conhecimentos em roda
Ao final do primeiro dia do intercâmbio aconteceu uma roda de conversa sobre “Agriculturas e processos em rede nas regiões metropolitanas de Belo Horizonte e do Rio de Janeiro”. A conversa contou com a participação de parceiras/os da REDE que estão envolvidas/os na construção da agroecologia na RMBH: Subsecretaria de Segurança Alimentar e Nutricional de Belo Horizonte (SUSAN); Articulação Metropolitana de Agricultura Urbana (AMAU); Articulação Embaúba: raizeiras, benzedeiras e parteiras da região metropolitana de Belo Horizonte; e o Sistema de Garantia Participativa da RMBH (SPG).
A roda foi um momento de partilha sobre a construção de ações e processos agroecológicos em rede em regiões metropolitanas, apontando potências e desafios e reconhecendo o muito que já foi feito. Para superar os desafios e somar forças para o muito que ainda deve ser feito precisamos seguir unidas/os, se complementando nas diversas frentes e formas de luta agroecológica.
Enquanto morar for um privilégio, ocupar é um direito!
Quintal da Dona Ana e do Sr. Adão na Izidora
No dia 26 pela manhã visitamos o quintal da Dona Ana e do Sr. Adão na Ocupação Vitória – Izidora. A Região da Izidora é um dos maiores conflitos fundiários urbanos da América Latina. Localizada na regional de Venda Nova a ocupação surgiu em 2011 a partir da entrada espontânea de famílias sem-teto no terreno. A Izidora é composta por três ocupações: Vitória, Esperança e Rosa Leão. Abriga atualmente mais de 8 mil famílias, garantindo a vigência da lei e do direito constitucional de moradia.
Em 2014, a Izidora foi vítima de uma grande cruzada midiática e política contra o direito à moradia das famílias. Criminalizadas pela mídia, as famílias foram extremamente violadas e expostas por vários dias através de ordens e ameaças de despejo e dois líderes comunitários da Izidora foram assassinados.
Nesse contexto de conflito encontramos o quintal da Dona Ana e do Sr. Adão, onde cultivam com diversidade alimentos sem veneno que são consumidos pela família e comercializados.
Da Izidora para o alto do Morro, no alto da Serra
RootsAtiva – outra existência é possível
Atravessamos a cidade e, depois de quase duas horas de trânsito e de subir uma escadaria de 150 degraus, chegamos no espaço do Roots Ativa, localizado na Vila Nossa Senhora de Fátima – Aglomerado da Serra.
O Roots Ativa, criado em 2005, é um coletivo de jovens urbanas/os que moram em uma casa coletiva e vivem a partir da cultura rastafari. Desenvolve ações e atividades de preservação ambiental e de agricultura na comunidade. Possuem no espaço uma cozinha para produção de alimentos que são comercializados, uma horta para produção de mudas e biofertilizantes e compostam resíduos orgânicos gerados no espaço e em algumas moradias da comunidade. No espaço também funciona o Núcleo Marcus Garvey de educação de jovens e adultos, onde acontecem para aulas, reuniões e oficinas.
Conhecendo os saberes e sabores da Terra
Armazém do campo marcou com música e dança a rota do Intercâmbio
Na noite de sexta, depois de uma longa jornada, o grupo festejou o Encontro em uma cultural no Armazém do Campo – loja de produtos do MST em BH. A noite contou com a apresentação do grupo de forró Pisa na Fulô.
Hortelões da Lagoinha
Na manhã de sábado (último dia de intercâmbio) o grupo visitou a experiência dos hortelões da Lagoinha. Um coletivo de agroecologia urbana e fomento cultural, criado em 2017, por moradoras/es do Bairro Lagoinha, estudantes, professoras/es e profissionais de diversas áreas, em sintonia com os conhecimentos dos povos ancestrais, indígenas e quilombolas. O Coletivo cuida de uma horta localizada em um espaço residual (canteiro) da Avenida Antônio Carlos e fica cercada por grandes avenidas e viadutos que marcam o cenário da cidade empresa.
Que a Terra seja sempre Viva!
Em Belo Horizonte várias/os produtoras/es se articulam em torno da Feira Terra VIva, um ponto fixo de comercialização da Economia Solidária. A Feira oferece serviços, produtos e experiências que querem romper com a lógica de exploração do outro. Conta com mais de 30 parceiras e parceiros que oferecem diversos produtos na Feira. Além disso, conta também com um circuito cultural que completa e complementa toda uma nova experiência de troca na cidade.
Para seguir a caminhada…
Em um momento de aumento do conservadorismo, da pobreza, da desigualdade social e da violência no campo a Agroecologia é mais urgente. Ao mesmo tempo que a agroecologia emerge forte e pulsante nas cidades e no campo e o agronegócio e os grandes negócios do capital seguem firmes no propósito de exploração, opressão e lucro. A vida vale mais que o lucro. É possível fazer ser real o bem-viver contra um projeto que massacra, humilha e mata milhares de pessoas em nosso país. Nesse contexto a agroecologia é uma trincheira de luta para guerreiras e guerreiros.
O Intercâmbio faz parte dessa batalha que travamos diariamente. Parte que nos fortalece, que nos guia, que nos une, que nos coloca provocações e desafios para serem superados. E assim podemos contribuir com o desenrolar da história por um futuro onde todas e todos sejamos realmente livres!
Viva a Agroecologia!